
No sábado 27 de dezembro de 2008, pegamos o Hamas de surpresa. Só Alá sabe porque eles foram surpreendidos. O que poderiam estar esperando, com efeito, depois de atirar milhares de foguetes sobre os habitantes do sul de Israel? Achavam que pediríamos que atirassem ainda mais foguetes?
Hoje, porém, chegou a hora de surpreendê-los novamente, dessa vez pondo fim às operações. Não por causa deles, por nossa causa. No momento em que essas linhas são escritas, a mídia informa (com a hipocrisia habitual, sem citar nomes) a morte de irmãs de 4 e 11 anos, moradoras de Beit Lahya, ao norte da Faixa de Gaza. Essas duas meninas não "encontraram a morte", tampouco a procuraram. Com certeza foram mortas, não intencionalmente, mas inevitavelmente, pelas bombas atiradas dos aviões. Para os pobres e as crianças de nossas cidades, aqueles de quem se diz que são os que "contam acima de tudo", isso remete a uma única pergunta: a morte das garotas vai fortalecer a segurança das nossas crianças no sul?
Sim ou não?
Pode-se, por exemplo, fazer perguntas sobre os irmãos, os primos, os amigos e os vizinhos das duas irmãs. Eles vão se tornar, a partir de agora, mais moderados, mais partidários da paz? Ou, ao contrário, hoje a lista de terroristas e potenciais atiradores de foguetes vai aumentar ainda mais?
Àqueles que porventura sintam dificuldade de responder, solicita-se que pensem nos efeitos dos atentados terroristas sobre os cidadãos israelenses. Uma decisão israelense de cessar-fogo unilateral provocará dois possíveis efeitos:
ou o Hamas prosseguirá os bombardeios, ou também cessará o fogo.
Na segunda alternativa, a desejável, assistiremos a um esforço diplomático com vistas a alcançar um acordo que responda à necessidade de segurança dos cidadãos israelenses do sul, bem como às condições básicas de vida da população de Gaza.
Caso prevaleça a primeira alternativa, aí Israel se encontrará livre para agir, e dessa vez com maior apoio da comunidade internacional e da opinião pública israelense.
A força, nós já a mostramos. Agora é preciso mostrar um pouco de inteligência. Uma invasão terrestre de Gaza, ou a continuação das mortes, não faz senão aumentar a hostilidade e afastar qualquer chance de alcançar aquilo que constitui um interesse vital para Israel: um acordo de paz com os palestinos.
Os dirigentes do Hamas não são aliados na busca de paz. Mas os habitantes de Gaza são. É por essa razão que é preciso chegar às discussões de paz, e preservar as chances desta, nem que seja pela força. O futuro de Israel não está no estreito campo visual dos binóculos militares; a visão deve servir, acima de tudo, a não se perder de vista o objetivo.
É importante que nosso futuro não seja posto em jogo no dia das eleições, não se resuma a uma ação contra os Qassams e não se defina no QG do Estado-Maior. Nosso objetivo deve ser um Estado que seja nosso e não um Estado bi-nacional.
Devemos aspirar a relações corretas com nossos vizinhos e a uma vida normal para nossos filhos.
A estrada que leva de Gaza a Genebra é longa, mas devemos continuar caminhando. Em primeiro lugar, é preciso buscar todas as possibilidades de cessar-fogo. Em seguida, é preciso seguir a trilha das negociações aceleradas, tendo um acordo como meta. Pois essa é a única maneira de descortinar uma verdadeira segurança.
Na verdade, será nesse momento, e apenas nesse momento, que provaremos que são os nossos filhos que importam acima de tudo.
GADI BALTIANSKI é diretor da ala israelense da ONG Iniciativa de Genebra, que promove acordo redigido por personalidades israelenses e palestinas que acordou em 2002 soluções negociadas para os aspectos mais críticos do conflito. O artigo original foi publicado em 31|12|08 em hebraico e árabe nos jornais Israel Haióm e Al-Ayyam. A versão em português, traduzida pelo PAZ AGORA|BR foi publicada inicialmente no Terra Magazine em 06|01|08.
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